quinta-feira, 22 de abril de 2010

Casa de espelhos


    E quando eu acho que finalmente acabou, vejo tragicamente que estou no mesmo lugar, de frente para tantos espelhos que nem consigo imaginar como tantas dores ampliadas e repetidas podem ser reais. E na ansiedade desesperada de me livrar de pelo menos uma, acabo cedendo ao impulso de escrever, como se pudesse colocar tudo pra fora. Sabendo que só há uma forma de sair deste maldito lugar escuro e vazio que me fecha em lágrimas.
    Meu coração se fecha num vazio tão profundo que chega a doer. A dor que sinto é real. Se não é tão real quanto eu sinto o corte dentro do peito, então me convenço de que é a dor mais forte que já senti. Um corte ou uma ferida é uma dor que geralmente passa, ou se não passa ela acaba com você e te livra logo de tudo o que sente e mesmo aquelas que são físicas e se demoram no corpo a dor ainda é capaz de ser menor.
    Dói tanto como eu nunca havia sentido. Tenho andado muda pelos caminhos rotineiros. Já não consigo prestar atenção em nada ao meu redor, tudo passa despercebido pelos meus olhos e pelos meus ouvidos. E no silêncio enlouquecedor eu ouço a mesma voz que berra ao silêncio, e é dela que tenho medo, um medo absurdo. Não sei explicar onde estou agora a não ser que me perco em cada letra, e já escolho as que não me fazem sentido algum.
    A cada passo que dou, tenho medo de onde me levará o próximo, o mesmo silêncio me enlouquece. Cada pessoa que passa por mim é apenas uma imagem do absurdo retrato que me mata indiferente com suas cores vivas. Sinto que cada uma de suas cores primarias conseguem gota a gota me deixarem em estado monocromático, tiram-me o vermelho sangue vivo, o verde reluzente de esperança, o azul solidário da minha tranqüilidade e tantas porcarias a mais que vão se desenhando inanimadamente ao meu redor.
    Passo com tanto desgosto pelas sombras que ficam atrás do caminho que sigo por hábito e cada olhar que me segue não faz mais diferença alguma. O vazio. Ele me enlouquece, este vazio que reluz ao longe, mas que está mais perto do que eu possa ver e mais em mim do que eu possa com todas as forças sentir.
    Vejo que realmente por mais que as pessoas permaneçam ao meu lado, nenhuma delas realmente se importam como me sinto, e às vezes nem eu mesma me importo com o estado que me encontro. Ainda vejo lá ao longe os olhares solidários que se dirigem a mim, são poucos e raros os que realmente querem me tirar deste vazio que se fecha em mim mesma. Fico quase desesperada ao ver que toda felicidade é temporária e por mais que eu sorria e brinque, faltará sempre algo ao final do meu dia. (Ele!)
    Olho ao meu redor, cada detalhe é muito comum, cada pequeno detalhe é muito familiar. O pequeno porta-caneta á esquerda, o scanner à direita, a minha nova frota de barquinhos de papel da última sexta-feira, a caneta que sempre some pela manhã, e os mesmos rostos que se desprendem em seus próprios cubículos de uma rotina. É tudo tão indiferente do que eu sinto.
    Não consigo acreditar que estou aqui de novo no mesmo lugar. Não quero acreditar!
    Dói tanto. Será que alguém me vê? Será que alguém enxerga que estou aqui tão sozinha? Fico desesperada tentando calar o silêncio que grita ao meu ouvido. Tento de alguma forma fugir dele. E com palavras impensadas me coloco no mesmo lugar.
    Quantas vezes mais vou sentir a mesma dor?
Estou no mesmo lugar, chorando no mesmo vazio. Estou esperando por algo que não tenho idéia do que seja. Só não me negue por favor o teu abraço, seja no silêncio e no cansaço, o único lugar onde me refaço.
 


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